Rotaroots: Das cartas que nunca te escrevi

Achei aqui, perdida em um antigo caderno, o que era pra ser uma carta de quando ainda guardava a esperança de contigo encontrar a calmaria que eu conheço hoje.

Em meio às turbulências que vivi, incluindo as tempestades onde te encontrava, sem nome nem data ficou esquecido um sentimento que eu guardava em silêncio.

"Se não fosse tão turbulento, se um dia ao menos eu conseguisse colocar tudo em ordem, se um dia você decidisse se quer ir ou ficar, ai sim, se por ficar, eu também ficaria. Mas nunca fica você aqui. Você vem, mas depois se vai, e aqui fico eu - só - fugindo do querer ficar e do medo de me afogar e me perder no furacão onde te encontro.
Por que só te encontro em tempestades? Eu queria dias de sol. Passear de bicicleta perto do mar num dia com pouco vento, e não só descer ou subir as escadarias de lugares escuros e barulhentos.
É como se seguíssemos sempre o mesmo roteiro e eu não consigo mais me deixar arrastar por essas coisas tortas que sinto quando te vejo comigo no meio das luzes que piscam no escuro. Te ver comigo é saber que vou me arrepender de ter me deixado levar pra me ver contigo mais uma vez, porque o que acontece aqui é finito aqui também, e não continua depois que eu for embora e o dia amanhecer. 
Eu tentei entender o que acontecia, o que havia de errado, mas eu não sei se existe mesmo alguma coisa pra consertar. Eu não sei se o "certo" somos nós dois em outro lugar que não seja aqui, mas essas noites movimentadas tem me cansado. Quero mais do que subir e descer degraus e também não tenho mais onde me segurar quando o vendaval começa. Eu preciso da calmaria que você não quer, preciso de dias de sol. Preciso ir."

Depois lembrei que um dia você me contou que esperava que as coisas fossem diferentes, que esperava encontrar tranquilidade comigo também, mas é tarde demais. Acho que no fim das contas as coisas são como tem que ser. Hoje eu tenho alguém que me traz a paz que eu precisava e me segura quando estou prestes a cair, diferente daqueles teus temporais que me arrastavam e depois me deixavam no chão.

Espero que um dia você também encontre o que precisa. Quanto a nós, é triste pensar, mas às vezes acho que nunca mais passaremos de meia dúzia de cumprimentos e frases soltas de quem nunca teve muita coisa em comum.

PS: Dos meus roteiros mal escritos e da vida torta que levava, ficaram apenas as cartas que nunca te mandei.

Ketryn




Essa postagem faz parte dos temas de Setembro do Rotaroots.

Postado em  29 de Setembro de 2014

7 comentários:

  1. Nossa, eu tenho tantas cartas espalhadas em cadernos antigos que escrevi e não mandei, tantos textos programados na minha mente para pessoas que ficaram para trás. Gostei muito do seu texto, dessa perspectiva de precisar de calmaria e de momentos ensolarados. Que linda <3


    Beijos
    Brilho de Aluguel

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    1. <3
      Acho que essa perspectiva é muito da forma que eu vejo a vida. A gente precisa demonstrar coragem pra enfrentar as tormentas, mas depois de viver tanta confusão é bom encontrar a calmaria e saber que as tempestades fizeram a gente amadurecer :)
      Obrigada, Thay,
      Beijo

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  2. Acho que um pouco das suas palavras descreveram coisas que aconteceram um tempo atrás na minha vida,principalmente na parte: "Te ver comigo é saber que vou me arrepender de ter me deixado levar pra me ver contigo mais uma vez, porque o que acontece aqui é finito aqui também, e não continua depois que eu for embora e o dia amanhecer. "
    Assim como você,espero também encontrar alguém que me traga paz...
    Beijos
    www.mundoperdidodacarol.blogspot.com

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    1. É bom saber que minhas palavras servem pra retratar sentimentos de outras pessoas também. Fico feliz :D E logo você encontra a paz sim, é só uma questão de tempo.

      Beijão.

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  3. Que bonito!
    Fiquei emocionada
    de verdade :')
    bju

    http://karinapinheiro.com.br/blog/

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